quinta-feira, 13 de março de 2014

Água

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Temos várias razões para perda de fé no Brasil. A questão da água e do clima são suficientemente sérias senão assustadoras.

Foto: Steve Garner (CC by 2.0)
O que os climatologistas apontam é que a negação das alterações climáticas não pode ser feita com o argumento de “esse extremo já foi observado 30-40 anos atrás”, porque tem a questão difusa.  Na parte difusa, o que tem sido anormal é o número de extremos climáticos acontecendo todos ao mesmo tempo no planeta: seca no Brasil durante a temporada de chuvas, frio extremo nos EUA e Inglaterra debaixo de água, etc. tudo ao mesmo tempo.

O Brasil vive a combinação nefasta de má gestão política dos recursos com dependência enorme da estabilidade climática hoje cada vez menor.

Temos também a falha da teoria econômica, que considera água e a natureza bens livres, ou seja, são e serão sempre externalidades (bens livres não são passíveis de apropriação econômica). A questão da água em São Paulo onde as perdas na distribuição por falta de investimentos no encanamento são grandes, vemos o quanto a teoria econômica disfuncional explica o caso.  Para a empresa de saneamento, a água não tem custo algum, pagamos apenas pela entrega, então, o fato da água vazar 30-40% pelos canos até seu destino final tem custo zero para a empresa, ou seja, é uma externalidade, não impacta suas receitas.  Mas se a empresa decidir consertar os canos, isso é um passivo imediato, aumenta os gastos.  Se a eficiência for obrigatória por lei usando dispersores em chuveiros e torneiras e vasos sanitários eficientes, o consumo de água despenca, o que reduz a receita da empresa.

Num recurso tão indispensável quanto a água o sistema premia o desperdício, as perdas e a ineficiência, colocando em risco a vida de todos na Terra.  É assustador, porque a água não pode ser produzida, cada gota de água que olhamos num copo existe há 15 bilhões de anos no Universo e é, pelo menos na vida tal como a conhecemos, o elemento vital da sua formação.  Um corpo humano não aguenta uma semana sem água, embora aguente um mês sem comida.

Nova Iorque caminhava para uma crise de falta de água sem precedentes no final dos anos 1990, mas o pagamento de serviços ambientais resolveu o problema, ao manter as matas e florestas das fontes, a água se recuperou e ao reduzir a demanda com eficiência, o equilibrio foi restaurado. No final, temos que respeitar os limites ecológicos para nosso sistema, mas nessa fase intermediária precisamos começar a agir para evitar o pior com o apoio da precificação ambiental, tecnologia, eficiência e tudo que estiver disponivel.  Não podemos ficar sem água e de comida, ninguém estará a salvo disso, mesmo os mais ricos, porque tudo depende da natureza e continuamos tão dependentes dela quanto o homem de Neardental. 

No Brasil desmatar terras por onde se rasgam novas estradas para especulação imobiliária ainda é o grande motor de destruição das nossas florestas.  Sem a Amazônia estaremos todos mortos, isso é uma certeza científica: são 21 bilhões de toneladas de águas produzidas diariamente via vapor que sai das folhas de 600 bilhões de árvores, um volume maior que o do rio Amazonas, maior do mundo, que gera 19 bilhões diariamente. A fonte desse dado é a palestra no TEDxAmazônia do Antonio Donato Nobre, com relato emocionante dos serviços biológicos dessa floresta, que são vários: a floresta Amazônica tem um estoque de carbono equivalente as emissões totais da revolução industrial até hoje, o que, possivelmente, com a sua morte, iria abalar e muito nossa atmosfera. Não é só seu estoque ainda ignorado de biodiversidade e de fonte para vários benefícios à humanidade e sua saúde, mas é o risco que estamos atingindo: segundo Smithsonian se 25% do total da floresta for destruído, pode ser seu ponto de ruptura, a partir do qual ela não é mais capaz de autogerar as condições da sua sobrevivência.  Não sou especialista, mas sou fascinado pela Amazônia e pelos ecossistemas do nosso país, como o Cerrado.   Só consigo entender a destruição desenfreada pela ignorância e imediatismo de alguns e pelo erro atroz da teoria econômica, um dos maiores erros científicos da história da humanidade.

Precisamos de pessoas e políticos que comecem a olhar isso de cima, a população de uma forma geral vive alheia e não tem noção do perigo, pois estão lutando para sobreviver e receberam estímulos errados ligados a questões menos importantes que não lhes garante nada, nem a felicidade ou sua liberdade.  Sempre desejamos que a população tome poder do seu destino com a ajuda de todos, para viverem plenos, mas isso está longe de ser possível, ainda mais no Brasil. Dependemos dos políticos, dos decisores e formadores de opinião de forma extrema, mas eles todos encontram-se ausentes e com raríssimas exceções vemos alguma claridade.  Precisamos de ação antes que seja tarde demais. Espero que já não seja.  Mas o fato é que até agora nenhuma ação foi feita para mudar a rota de colisão da humanidade com a Terra.

Hugo

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