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Na Agenda 21 global e num dos primeiros artigos está escrito:
2.5. Um sistema de comércio multilateral aberto, eqüitativo, seguro, não-discriminatório e previsível, compatível com os objetivos do desenvolvimento sustentável e que resulte na distribuição ótima da produção mundial, sobre a base da vantagem comparativa, trará benefícios a todos os parceiros comerciais. Além disso, a ampliação do acesso aos mercados das exportações dos países em desenvolvimento, associada a políticas macroeconômicas e ambientais saudáveis, terá um impacto positivo sobre o meio ambiente e conseqüentemente será uma importante contribuição para o desenvolvimento sustentável.
O que vocês, do grupo EcoecoBrasil acham disso?
Abraço Hugo
Eu diria que o texto pode alternativamente ser definido como utopia ou tautologia.
Utopia porque os qualificativos e requisitos do sistema são tantos que imaginar que sejam todos preenchidos simultaneamente é simplesmente utopico. Pelo mesmo motivo ele é tautologico: se o sistema realmente fosse aberto, equitativo, não discriminatorio, previsivel, compativel com a sustentabilidade, resultante numa distribuição otima, baseado na vantagem comparativa... é claro que todos os parceiros trariam vantagem dele! E se alem disso os parceiros tivessem politicas macroeconomicas e ambientais saudaveis... logico que contribuiria para a sustentabilidade!
O problema é justamente que na realidade pouquissimas (para não dizer nenhuma) das condições são preenchidas! A começar pela vantagem comparativa, verdadeira Meca da ortodoxia economica do comercio internacional... curiosamente os economistas liberais que ha mais de 1 século incansavelmente pregam, renovam e atualizam com modelos sofisticados a fé no modelo original de Ricardo, esquecem que o modelo foi formulado num contexto historico bem diferente e com uma condição de validade que na epoca era a regra mas que hoje nunca é preenchidas: a ausencia (total ou quase) de mobilidade do fator capital. So se os investimentos financeiros e produtivos se concentram maximamente dentro das fronteiras de cada pais ha um real incentivo mutualmente benefico de especialização na produção de bens com base na vantagem comparativa, e todos os parceiros se beneficiam do comercio internacional. Do contrario, se o capital é movel, ele simplesmente vai se delocalizar atras da vantagem absoluta, geralmente associada ao menor custo do fator trabalho e das condições fisicas e legais onde pode externalizar o maximo dos custos sociais e ambientais da produção. Ai qualquer discurso sobre a vantagem comparativa do comercio internacional vai simplesmente pro espaço...
Enzo
Enzo, excelente resposta. O papel aceita tudo, a realidade não. Bom ponto sobre a forma como na realidade a externalidade social e ambiental é maximizada (no fundo a produção está sendo feita às custas de trabalho praticamente escravo e indigno na Ásia, lembro alguns anos atrás de ter lido que para cada um dólar ganho por um estadunidense, os chineses ganhavam só dois centavos). O que me espanta é a cegueira de todos em relação a isso e um texto desses estar escrito dessa forma como se não houvesse vida inteligente na face da Terra.
O Ricardo Casetta aqui copiado foi quem me fez a pergunta sobre esse artigo da Agenda 21. Nem sei o que esperar do resto, ando com uma preguiça danada de ler textos como esses sem me desesperar. Eu não sei se ele está nessa lista, mas seria interessante tê-lo aqui.
Abraço Hugo
Enzo:
Herman Daly há tempo chama a atenção para o fato de que com mobilidade internacional do capital, o que prevalece não é o modelo das vantagens comparativas, de Ricardo, e sim o das vantagnes absolutas, de Bertil Ohlin. Você está certo.
Abraço,
Clóvis.
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