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A realidade atual não está reinvindicando a posição otimista dos adoradores do crescimento, nem dos verdadeiros que acreditam na teoria neoclássica e seus erros epistemológicos, nem dos falsos que dizem ter alterado a rota, mas continuam com propostas na mesma direção de aumento do consumo absoluto de matéria e energia e da nossa pegada ecológica global que já ultrapassa a capacidade do planeta em 50% e segue em crescimento.
Os pessimistas foram demonizados, claro, porque parece mais fácil viver numa casa com a sala pegando fogo e fingir que nada está acontecendo do que encarar a realidade nua e crua a nossa volta e mudar nosso modelo mental.
A realidade reinvindicou a posição dos pessimistas, jogando na vala comum do vazio todas as discussões de alternativas ao modelo econômico atual. Ficamos sem avanço algum esses anos todos, exceto o da destruição crescente das bases de sustentação da vida causada por nossas economias, que segue inabalável diante dos nossos olhos. Por tudo isso posto, a crise da água é uma oportunidade e acho que precisamos de um movimento mais amplode debate e propostas aplicadas. Temos ouvido no rádio e a partir da fala dos dirigentes políticos as seguintes informações desde quando começou essa crise medonha:
1) a crise hídrica foi causada pela seca;
2) a chuva irá resolver o problema;
3) não haverá racionamento; e mais recentemente,
4) a única solução é a chuva dado que as “obras” ficarão prontas só em 2016.
Lamentável. Alguns pontos:
1) o adensamento populacional da região metropolitana de São Paulo e suas cidades satélites reduz a disponibilidade de água per capita a níveis de regiões semi-áridas: menos de 200 litros por pessoa por dia, quando o mínimo seguro é 2000 (Brasil tem muito mais). O erro histórico é deixar a população paulista e paulistana esbanjar água quando a realidade é outra há muito tempo.
2) a destruição de 80% da vegetação em mananciais e nascentes contribuiu bastante pela perda da água e nada se fala sobre isso.
3) a coleta do esgoto é de 70% do total e desta o tratamento é menos de 30%, ou seja, a maior parte do esgoto dos quase 20 milhões é jogada in natura nos nossos rios, isso reduz a oferta de água dramaticamente.
4) a perda nos canos é uma incógnita, mas é sabidamente elevada, outro absurdo.
5) os reservatórios estavam em queda franca desde 2011, algum planejamento antes da seca de 2014 deveria ter sido adotado para evitar perder a impermeabilização com o uso do volume morto, nada explica chegarmos ao ponto que chegamos, exceto a má gestão, a falta de investimentos e as ineficiências administrativas, além da negação total do problema.
6) se a chuva não vier, não há como abastecer 20.000.000 com caminhões-pipa, nem com poços, nem há alternativa, ou seja, se não chover caminhamos para um cenário MAD MAX aterrador.
7) a destruição contínua do Cerrado e da Amazônia irá transformar o Brasil num enorme deserto não importa o que façamos localmente, o risco sistêmico nacional da destruição dos nossos ecossistemas precisa ser contornado.
8) falo nas minhas palestras desde 1997 que a maior ameaça do aquecimento global é o fim da água e esse outro risco sistêmico global está pior a cada dia.
9) o modelo mental do crescimento econômico baseado em uma teoria econômica falsa precisa ser revogado, porque a oferta da água é finita e mesmo que consigamos preservar 100% e adotar tecnologias de eficiência ao extremo, não há como manter uma demanda crescente sobre um recurso finito, assim como é impossível manter um crescimento infinito exponencial num planeta finito em espaço, água e serviços ecológicos (quem acredita nisso ou é um louco ou é um economista e sobre esse ponto, tema de estudo há décadas, disso com fartos argumentos convincentes apesar disso escamoteado por uns, ignorado por quase todos).
Como atacar os oito pontos acima? Se atacarmos os oito pontos acima, o último naturalmente se resolve ou é forçado a tanto, embora os adoradores do crescimento (falsos e verdadeiros) ainda irão lutar para não largar o osso, mas de qualquer forma, contra eles e essa visão estúpida, o fim da água em São Paulo e alhures é uma prova do erro fatal da teoria econômica tradicional baseada no crescimento do PIB e apenas nisso. Se conseguirmos evitar o cenário MAD MAX aterrador, essa é talvez a única e última oportunidade de salvar a humanidade do colapso.