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Primeira missiva:
Será que alguém já se deu o trabalho de calcular, retrospectivamente, a "taxa de acerto" de algumas previsões?
Desconfio que para algumas, especialmente as dos economistas, uma tal taxa, se calculada, estaria bastante próxima do zero...
Quem sabe isso não estaria também em boa parte decorrente do fato que os economistas, em sua maioria, obstinam-se a aplicar modelos mecanicistas relativamente simples, que com sorte e exceções às vezes funcionam para realidades fisicas o menos remotas possiveis das condições de experiencias de laboratorio, às realidades sociais, nas quais os fatores humanos, biologicos e do pensamento, complexificam irremediavelmente o quadro dos modelos, tornando as hipoteses de racionalidade dos comportamentos individuais bastante frageis, resultando em margens muito amplas de imprevisibilidade.
Pelo jeito, com tais presmissas, a certeza do erro (que haverà erro) parece ser a unica coisa realmente previsivel com certeza (ou pelo menos com uma margem de erro aceitavel)!
Falar de "erro" do modelo de previsão nestas condições parece pleonastico... precisaria jogar o modelo fora e adotar outro!
E.
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Segunda missiva:
Com a devida vênia e a (in)certeza de poder estar dizendo besteira, pergunto (baseado na jurisprudência de que perguntar não ofende): como ficam os ciclos econômicos, independente da duração? A tendência (trend) conteria elementos para previsão nos curto, médio e longo prazos? Claro que no último cenário (longo prazo) estaremos todos mortos, já dizia o poeta.
F.
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Terceira missiva:
Isso dizia Keynes, com sua visão estática individualista e que vitimou nossa sociedade: no longo prazo todos estaremos mortos. Delfim Netto foi atrás, quando Ricardo Arnst perguntou a ele no seu livro (O que os economistas pensam sobre sustentabilidade que, a propósito, nem sabia que os economistas pensavam...). Ricardo perguntou: você não tem medo do que pode acontecer ao planeta e Delfim respondeu: "sou muito velho e não estarei aqui para viver isso". Além de Keynes temos outros cientistas do INPA que podem nos dizer com todas as letras que "sem a Amazônia todos estaremos mortos." Outro poeta (Roegen) lembrou que do ponto de vista da nossa espécie animal somos praticamente imortais. O nosso fim coletivo está ligado ao nosso individualismo, a falta de solidariedade da nossa espécie animal, entre nossos pares e com os demais seres vivos e ecossistemas (por que não ser carnívoros se não somos nós que entramos no corredor da morte e sofrimento extremo ao longo da vida com um sistema nervoso central?).
Outro poeta (Laszlos) também disse que o futuro não foi feito para ser previsto, mas para ser criado. Na cultura do bilionário e da celebridade que veste a roupa do bilionário para os lavados cerebrais (bilhões de pessoas) isso não faz o menor sentido. Vamos todos tomar Coca-Cola até morrer.
Os economistas são cassandras às avessas. Apolo apaixonado pela Cassandra deu a ela o poder de prever o futuro, até o dia que ela se recusou em deitar com ele novamente. Nesse dia, ele a amaldiçoou e ela continuou prevendo o futuro, no entanto, ninguém iria mais acreditar nela. Os economistas são cassandras às avessas, porque não conseguem prever o futuro, mas todos acreditam neles.
Por pura ideologia, claro, e interesse próprio. A crise de 2008 até hoje é uma crise final que vai terminar em colapso das economias e guerras, mesmo antes do colapso planetário. Muito simples: o crescimento não será restaurado, crescimento é um fim em si mesmo, não tem base de sustentação - embora também não tenha sustentabilidade socioambiental.
Incrível. Estamos vivendo o pior modelo econômico na mais alta potência - sem nomes, pois todos - comunismo, socialismo, ditadura, capitalismo - são idênticos e baseados em fluxos e nas falsas suposições que a sociedade pode ser extremamente desigual e que o planeta é inesgotável, inclusive na quantidade de água, apesar de serem claramente finitos.
O futuro que estamos criando no dia a dia é o do colapso total. Até agora não há nada que tenha alterado isso. Ao contrário.
Hugo Penteado
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Quarta missiva:
Prezado Hugo
Perfeito. Estamos numa numa era caracterizada pelo fim das certezas e emergência de novos paradigmas - ("The end of certainty- Time, Chaos , and the new laws of Nature " , 1996, Ilya Prigogine) Prigogine coloca bem a questão do fim do determinismo e do reducionismo, como praticado-acreditado até pouco, e naturalmene , ressalta o papel do caos determinista, a natureza dos sistemas complexos, a questão da "imprevisibilidade determinista" , resultante de, ou que incorpora as propriedades dos sistemas dinâmicos não -lineares. Recentemente , fiquei atento ( também) ao conceito e "propriedades " dos "wicked problems" -( conhece o conceito, pois preciso de ajuda?). Nestes aspectos a questão principal não é bem o "erro" - Nosso tranquilo sistema solar não é rigorosamente estável. Na meteorolgia , "errar" não é humano : é parte do problema. Erro foi Einstein afirmar que o tempo é uma ilusão. Errar é humano.
E.
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Última missiva
Bom dia E.,
Não conheço o conceito de "wicked problems".
Acho que nosso maior problema não é o fim do determinismo, mas o risco de extinção por conta da nossa mais absoluta inconsciência e individualismo materializada em hábitos pavorosos no dia a dia feito por todos sem exceção. O culto do materialismo inconsequente em massa não é uma atitude isolada. Nem nosso corpo e nossa saúde respeitamos, não há nada mais assustador como participar da nossa contaminação diária com alimentos que não nutrem e contaminam e remédios que se curassem não se chamariam remédios, mas curádios. Nem nos importamos com o processo todo, como se ele fosse inexistente, invisível, imaterial, mas não é.
Passei 18 dias numa casa no campo mas imerso no sistema de compras lidando com quantidades tão gigantescas e inescapáveis de lixo, onde a coleta e entrega era feita por mim. Alguém aqui nessa lista já lidou com lixo acumulado por 18 dias para um conjunto de cinco pessoas? Seria um bom exercício para todos: ao invés de descartar o lixo diariamente, acumulem nas suas casas e residências o lixo por 15 dias. Reciclagem é hoje mais um de uma série explosiva de mitos e mentiras contadas à nossa volta (energia limpa é outro mito fantástico).
Ninguém se opõe a essa corrente destrutiva.
Se nem resolvemos o problema tão básico do lixo - entre tantos - de que adiantará teorias estratosféricas? Está na hora de fazermos uso do nosso lado prático, chamar cientistas para mostrar processos totalmente possíveis para reduzirmos via planejamento sério e efeito o desperdício diário gigante de matéria e energia e nossa pegada ecológica. Tudo isso precisa ser feito na prática, no dia a dia e não em teorias sem efetividade alguma. Enfim, não dá tempo de criar teorias muito mirabolantes, temos que lutar contra o processo de decisões diárias contra à nossa revelia que não passa da última "rave" capitalista do fim do mundo. Como deixamos acontecer - e deixamos - decisões como transposição do rio São Francisco, Belo Monte, Madeira, Três Gargantas, Trem Bala, estaleiros, portos, Copa do Mundo e Olimpíadas num país em que as escolas não oferecem nada aos jovens? E por aí vai. Como mudar na prática a vida de milhões de refugiados diários do sistema e mudar tudo isso, dando liberdade, poder, autonomia, possibilidades, ou seja, tudo que foi retirado da vida de praticamente todos? Por que não se discutem alternativas a tudo isso, como se houvesse só uma trilha a ser seguida, a da destruição total da vida desse planeta que se encontra já no seu maior processo de extinção em massa dos últimos 65 milhões de anos e é muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores, ou seja, nós. Do ponto de vista da vida, somos todos um.
Precisamos sair da teoria e ir para a prática com questões básicas para todos, mas importantíssimas para nosso futuro, que não pode ficar preso apenas numa intelectualidade inefetiva.
2012 pode ser ou não o fim do mundo, mas será mais um ano numa série na mesma direção absurda, sem que nada seja feito.
Alguém conhece um inventário de anomalias climáticas dos últimos anos? A estabilidade climática dos últimos tempos é a única razão pela qual estamos vivos hoje, sem ela não quero nem imaginar o que será da nossa espécie animal.
Abraço
Hugo
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