Chandran Nair tem razão ao dizer que a elite estudada da Índia aprende as mesmas besteiras que nós aprendemos em escolas ocidentais e voltam aos seus países sem a capacidade singular que teve o romeno Nicholas Georgescu-Roegen ao voltar a seu país de origem e perceber que seu aprendizado nos EUA de nada servia para seu país pobre, agrário e com falta de terras.
Foi a sua primeira crítica a esse pensamento econômico abismal. A solução para Romênia era uma ampla reforma agrária, mas no limite, o controle populacional. Não deveria passar despercebido, porque 1200 cientistas e mais de 150 prêmios Nobel pediram o imediato estancamento do número populacional como medidas urgentes para evitar o precipício.
Não vamos enveredar para a questão populacional, apenas ler como crescimento de tudo (não só de pessoas, mas de energia limpa, de coisa-cacarecos, etc.) é a litania atual invencível, praticamente invencível. Por essa linha, podemos dizer com segurança que seremos soterrados vivos. Já estamos sendo.
Hugo Penteado
-------------
Nova onda de emergentes começa a se formar, diz indiano em livro
Economista do Morgan Stanley afirma que gastos altos deixarão o Brasil de fora
LUCIANNE CARNEIRO
DIVULGAÇÃO
RIO —O indiano Ruchir Sharma administra nada menos que US$ 25 bilhões em mercados emergentes pelo Morgan Stanley. E é com essa experiência que se propõe a explicar a expansão das economias emergentes na última década e apontar quais serão os novos vencedores em “Breakout Nations — In Pursuit of the Next Economic Miracles” (Nações em ascensão — em busca dos próximos milagres econômicos, em tradução livre). Recém lançado nos EUA — e previsto para chegar ao Brasil em agosto pela Campus/Elsevier — o livro lista Turquia, Indonésia, Sri Lanka, Filipinas, Tailândia, Polônia, República Tcheca, Coreia do Sul e Nigéria como nações que devem crescer acima das expectativas nos próximos anos. Sharma diz que o Brasil é um mercado chave. Mas, pressionado pelos gastos elevados do governo, deve continuar a crescer em ritmo fraco, de 3% ao ano. Além disso, a dependência de commodities deve ser tratada com atenção.
O GLOBO: O que houve de diferente para as economias emergentes na última década?
RUCHIR SHARMA: Se olharmos para os últimos 50 anos, o crescimento médio dos mercados emergentes foi de 5% ou pouco mais. Mas, se separarmos isso por décadas, o comportamento é diferente. Nos anos 50, 60 e 70, a taxa foi de 5%. Já nas décadas de 80 e 90, essa taxa desacelerou para 3,5%. O que vimos a partir de 2003 foi que a expansão dos emergentes se acelerou muito fortemente. De 2003 até 2007, antes da explosão da crise, o crescimento econômico foi de 7,5% ao ano. É uma força poderosa, quando a onda levanta todos os barcos. Em 2007, apenas três economias no mundo registraram contração, enquanto mais da metade teve crescimento superior a 5%. Este foi verdadeiramente um período de exceção, se considerarmos o contexto histórico. Em 2007, no auge do boom, esse crescimento foi tão uniforme que todos os mercados emergentes estavam indo bem e a metade deles estava crescendo acima de 5%.
O GLOBO: Qual a razão para esta forte expansão?
SHARMA: A razão para esse crescimento excepcional é, em parte, porque se começou de uma base pequena. Mas o motivo mais forte foi a onda global de liquidez, quando bancos centrais de todo o mundo injetaram recursos na economia, que foram direcionados aos emergentes. Isso reduziu significativamente o custo do capital. Outro fator que contribuiu foi o boom de exportação dos países emergentes, favorecido pelo consumo americano. Mas acho que em muitos países isso (o crescimento) foi mal interpretado. Esses países acharam que era tudo em função deles, de como mudaram e de como foi seu desempenho. Na minha opinião, no entanto, isso é muito longe de ser uniforme. A expressão Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) se tornou popular simplesmente porque são os quatro maiores emergentes, mas são mercados diferentes. A razão de países como Brasil e Rússia terem se beneficiado foi o crescimento ainda mais acelerado da China, o que elevou a demanda por commodities.
O GLOBO: E o que está mudando agora?
SHARMA: As taxas de crescimento das economias emergentes estão voltando à média histórica, que é de cerca de 5% ao ano. Isso ocorre porque o ritmo de expansão da China está desacelerando — o que terá impacto sobre a demanda por commodities — e as condições de dinheiro fácil estão se alterando.
O GLOBO: O que tanto atrai nos países emergentes?
SHARMA: O apelo de mercados emergentes sempre existiu. Mas apenas alguns conseguem manter um crescimento robusto. As chances de um país emergente crescer 5% ou mais em uma década é de uma a cada três. A possibilidade cai de uma a cada quatro se pensarmos em duas décadas. Apenas seis países — Malásia, Coreia, Cingapura, Tailândia, Taiwan e Hong Kong — mantiveram essa expansão por quatro décadas. E só dois — Coreia e Taiwan — cresceram 5% por 50 anos. As chances de um emergente sustentar crescimento forte por muito tempo são poucas. Se olhar para a lista de estrelas das últimas décadas, verá que é diferente da de hoje. A taxa de mortalidade dos países é tão alta quanto a de ações no mercado financeiro. Há algumas estrelas cadentes, mas poucas vencedoras permanentes.
O GLOBO: O que difere esses países que sustentam o crescimento?
SHARMA: Esta resposta é complicada, não há uma única fórmula vencedora. Se olharmos para Coreia e Taiwan, as razões são muito diversas, desde ter base industrial consolidada, câmbio competitivo e orientação para o exterior. Nenhum deles produz commodities. As chances de um país com economia baseada em commodities manter crescimento sustentado são poucas, pois os preços tendem a cair em algum momento.
O GLOBO: Quão arriscado é o crescimento do Brasil?
SHARMA: A questão das commodities sempre existiu. O verdadeiro problema do Brasil é o gasto elevado do governo e os impostos também elevados. O boom de commodities tem sido capaz de compensar esses problemas. O crescimento do Brasil de 4% na última década foi alto, se considerar a média do país, mas não foi tão impressionante que o de outros emergentes.
O GLOBO: A indústria está perdendo importância relativa na economia brasileira. Que consequências podemos ter?
SHARMA: Este é um tema importante hoje e tem a ver com a taxa de câmbio. As economias que se destacaram na última década tinham taxa de câmbio competitiva, o que o Brasil não tem. É a mais cara entre os emergentes. E vemos isso nos preços de hotéis e restaurantes, por exemplo. O fato de o Brasil ter déficit em conta corrente de 3% do PIB em pleno boom de commodities é intrigante. Se os preços caem, o que ocorre? Acho que o Brasil é capaz de resolver a questão central que é um governo grande, mas não será capaz de crescer em ritmo significativo. O grande risco é se os preços de commodities caírem, que espero para os próximos anos. A economia chinesa está se movendo em direção a um crescimento mais lento. Mas não vejo uma crise (no país). O Brasil faz um belo trabalho ao administrar sua macroeconomia, mas o que eu vejo é que as taxas de crescimento não serão muito expressivas. Algo em torno de 3%, enquanto outros emergentes crescerão 5% e os EUA, 2,5%.
O GLOBO: Como define as chamadas nações em ascensão?
SHARMA: O que define uma nação em ascensão é o crescimento acima das expectativas. Se a China cresce de 6% a 7% e a Índia, entre 5% e 6%, por que não são nações em ascensão? As pessoas esperam um crescimento maior. Se a China crescer 7% nos próximos anos vai desapontar muita gente. Outra questão para definir esses países é o nível de renda per capita. É importante saber a que clube o país pertence: quanto mais rico, mais difícil é o crescimento. Para um país com renda per capita de US$ 20 mil crescer 4% é muito expressivo. Por outro lado, esse crescimento é muito baixo para um país com renda de US$ 5 mil.
O GLOBO: Quais serão os próximos países que vão despontar?
SHARMA: Minha lista inclui Turquia, Indonésia, Sri Lanka, Filipinas, Tailândia, Polônia, República Tcheca, Coreia do Sul e Nigéria. Esses países serão capazes de crescer mais rápido do que as pessoas esperam. E a renda per capita também vai avançar. A Nigéria precisa de expansão de 6% a 7% para se sair bem e acho que vai conseguir. O mesmo deve ocorrer com a Indonésia. Países como Brasil e Índia terão oportunidades. Nas outras nações, no entanto, a surpresa deve ser maior e as oportunidades também.