quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Rússia investe na perfuração oceânica de petróleo no Ártico

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A exploração de petróleo é prova da nossa ineficiência energética e do mito que falta energia para nos atender, quando na verdade, se a eficiência energética fosse adotada, conseguiríamos manter o sistema atual com 73% menos energia produzida globalmente, segundo a New Scientist e com isso, os mecanismos de sustentação da vida na Terra, dos quais dependemos, não estariam tão ameaçados...

Rússia investe na perfuração oceânica de petróleo no Ártico

O oceano Ártico é um lugar proibido para a perfuração de petróleo. Mas isso não impediu a Rússia de mergulhar nele – ou as companhias de petróleo ocidentais de a seguirem ansiosamente.
A Rússia, onde as reservas de petróleo em terra estão lentamente se esgotando, assinou no mês passado um acordo de exploração do Ártico com a gigante do petróleo britânica BP, cujas perspectivas de perfuração oceânica nos Estados Unidos se reduziram por conta do desastre no Golfo do México no ano passado. Outras companhias de petróleo ocidentais, reconhecendo a abertura de Moscou para novas perfurações oceânicas, estão em negociações similares com a Rússia.
As novas reservas de petróleo russas se mostrariam essenciais para o fornecimento mundial nas próximas décadas, agora que o país ultrapassou a Arábia Saudita como maior produtor de petróleo mundial, e enquanto a demanda global por petróleo continuar aumentando.
Mas à medida que as iniciativas da Rússia em alto mar avançam, as companhias de petróleo estarão se aventurando onde outros grandes países em torno do oceano Ártico – principalmente os EUA e o Canadá – temem permitir que a exploração de reservas de petróleo avance, tanto por motivos de segurança quanto por motivos ambientais.
Depois que o acidente da BP no Golfo no ano passado evidenciou as consequências de um derramamento catastrófico no oceano, as agências reguladoras dos EUA e do Canadá se concentraram nos desafios especiais do Ártico. A camada de gelo e os icebergs representam grandes ameaças para as plataformas de perfuração e para as equipes. E se houver derramamento de óleo no inverno, a limpeza aconteceria em meio à escuridão total que engolfa a região durante esses meses.
Na semana passada, a Royal Dutch Shell postergou planos para perfurar na costa do Ártico no Alaska, enquanto a companhia ainda enfrenta obstáculos por parte de reguladores cautelosos em Washington.
Os russos, que controlam uma área de perfuração mais promissora no oceano Ártico do que os EUA e o Canadá juntos, têm uma visão bem diferente.
À medida que suas reservas na Sibéria envelhecem, a produção diária da Rússia, sem nenhuma nova exploração, poderá ser reduzida em quase um milhão de barris até 2035, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Com sua economia dependente do petróleo e do gás, que respondem por cerca de 60% de todas as exportações, a Rússia vê pouca escolha a não ser perfurar o oceano – usando parceiros estrangeiros para fornecer a tecnologia e dividir os bilhões de dólares de custos de desenvolvimento.
E além disso, o desastre do golfo encorajou a Rússia a seguir adiante com a BP como sua primeira parceira. Na visão do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, hoje a BP é a companhia mais segura de se contratar para fazer o trabalho no oceano, depois de ter aprendido sua lição no Golfo.
“Um homem que já apanhou vale por dois que nunca apanharam”, disse Putin, citando um provérbio russo, depois que a BP assinou seu acordo no Ártico com a Rosneft, a companhia de petróleo estatal russa. A parceria demanda que as companhias explorem três seções no Mar de Kara, um corpo de água costeira cercada por gelo ao norte da Rússia central.
O acordo da BP não obteve muita reação da população na Rússia, em parte porque o movimento ambientalista é fraco, mas também porque os políticos da oposição não têm como impedir ou bloquear o processo.
O Ártico tem um quinto das reservas mundiais de petróleo e gás natural não descobertas e passíveis de extração, estima a Pesquisa Geológica dos EUA. De acordo com um relatório de 2009 do Departamento de Energia, 43 das 61 reservas significativas de petróleo e gás do Ártico estão na Rússia. O lado russo do Ártico é particularmente rico em gás natural, enquanto o lado norte-americano é rico em petróleo.
Enquanto os EUA e o Canadá hesitam, outros países estão abrindo espaço no Ártico para o setor. A Noruega, que no ano passado resolveu uma disputa territorial com a Rússia, está se preparando para abrir novas áreas de perfuração no Ártico.
No ano passado, a Groenlândia, que se tornou semi-autônoma em relação à Dinamarca em 2009, permitiu que a Cairn Energy fizesse algumas perfurações preliminares. A Cairn, uma companhia escocesa, está planejando quatro ouros poços este ano, enquanto a ExxonMobil, Chevron e Shell também devem começar a perfurar na área nos próximos anos.
Mas dos cinco países com costa no oceano Ártico, a Rússia é o que mais se beneficiaria com a exploração e o desenvolvimento da região.
“A Rússia é uma das peças fundamentais do fornecimento mundial de petróleo”, disse Daniel Yergin, historiador do petróleo e presidente da IHS Cambridge Energy Research Associates. “Ela tem um papel crucial na balança global de energia. O Ártico será um dos fatores críticos para determinar quanto petróleo a Rússia produzirá em 15 anos e exportará para o resto do mundo.”
Seguindo o modelo do acordo da BP, a Rosneft está negociando acordos de parceria com outras grandes companhias de petróleo impedidas de atuar na América do Norte e com intenção de explorar o fundo o Ártico na costa norte da Rússia. Entre elas está a Shell, disse o seu diretor-executivo no ano passado. O diretor-executivo da Rosneft, Eduard Y. Khudainatov, disse que outros representantes de companhias de petróleo estrangeiras fizeram fila do lado de seu escritório nos últimos dias. Artur N. Chilingarov, explorador polar, tornou-se um símbolo das ambições de Moscou no Ártico desde que andou num minissubmarino e colocou uma bandeira da Rússia no fundo do oceano sob o Pólo Norte, alegando a posse do local pela Rússia numa expedição de 2007.
“O futuro está no fundo do oceano”, disse Chilingarov, membro do Parlamento russo, numa entrevista. “Já perfuramos a terra até secá-la.”
A Rússia tem sido uma potência dominante do petróleo no Ártico desde que a União Soviética começou a fazer descobertas importantes nas reservas em terra de Tazovckoye, no litoral da baía de Ob na Sibéria em 1962. Os EUA não ficaram muito atrás, com a descoberta da reserva da baía de Prudhoe, em águas rasas, no Alaska, cinco anos depois.
A novidade é a movimentação em direção ao oceano.
As águas do Ártico são particularmente perigosas para a perfuração por causa do frio extremo, longos períodos de escuridão, neblinas densas e ventos com força de furacão. O gelo cobre a região por oito a nove meses durante o ano e pode bloquear a passagem de navios de socorro no caso de uma explosão. E, observam os ambientalistas, as baleias, ursos polares e outras espécies dependem dos frágeis habitats da região.
Essas preocupações impediram novas perfurações nas águas árticas do Alaska desde 2003, apesar de um grande declínio na produção de petróleo no Estado e do lobby intensivo das companhias de petróleo.
No Canadá, a perfuração oceânica no Ártico foi postergada enquanto o Conselho Nacional de Energia revê as regulações após o derramamento do Golfo.
Mas a Rússia está pressionando para seguir adiante. A decisão central para abrir o Ártico russo foi aprovada pelo parlamento em 2008, como uma emenda a uma lei sobre recursos do subsolo. Ela permitiu ao Ministério de Recursos Naturais transferir trechos do oceano para companhias de petróleo estatais num processo sem concorrência que não envolveu relatórios ambientais detalhados.
Até recentemente a Rússia via o mar de Kara, onde a BP e a Rosneft pretendem perfurar, como um lixão de gelo. Durante anos, a marinha soviética jogou lixo nuclear no mar, incluindo vários reatores usados de submarinos que foram jogados de embarcações em lugares não revelados.
Executivos da Rosneft dizem que sua perfuração exploratória não produzirá radiação.
Mas em todo caso, Chilingarov, o defensor das alegações da Rússia sobre o pólo, diz que um pouco de radiação não é nada para se preocupar. Ele disse que seu filho nasceu em Novaya Zemlya, um local de teste de armas nucleares no Ártico durante a Guerra Fria, e hoje é “um pouco mais alto” que ele.
“Em pequenas doses”, diz Chilingarov, “a radiação é boa para o crescimento.”
Tradução: Eloise De Vylder

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2011/02/21/russia-investe-na-perfuracao-oceanica-de-petroleo-no-artico.jhtm

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