quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Curto e grosso e super verdadeiro

Embora o Tom Friedman - e muitos outros - vivam o mito da energia, essa citação dele é digna de nota.

O mito de energia é abraçado por economistas de várias vertentes, não só os tradicionais, mas também os revolucionários: "se a humanidade alcançar uma fonte infinita de energia, baseada em células de hidrogénio ou energia solar ou outro avanço tecnológico mais profundo, o problema da finitude planetária será revogado e o padrão de vida das pessoas poderá ser mantido e até incrementado. As populações e as economias poderão crescer infinitamente."

Surrealista né? Mas isso é abraçado por gente muito séria: Al Gore, Jeremy Rifkin, Paul Krugman, Joseph Stiglitz, etc.

Por que é um mito? Porque não temos um problema só de energia mas de máteria também. A fonte de energia infinita pode resolver a discussão entre Herman Daly (estado estacionário) e Nicholas Georgescu-Roegen (estado declinante). Roegen dizia que um consequência inevitável da lei da Entropia era o decrescimento natural das nossas atividades e que a reciclagem não é gratuita e implica em mais uso de matéria e energia e de dissipação desses recursos. Por isso ele pregava (não sem razão e nem apenas por isso) a revogação total e absoluta de todas as forças armadas, que consomem energia e matéria do planeta para um fim inescrupuloso (dominação e destruição de povos, sempre por razões de conflito econômicos).

Com uma fonte inesgotável de energia isso desapareceria. Essa é uma discussão infinita, mas o fato é que o problema de matéria estará sempre presente em dois aspectos: serviços naturais e finitude espacial da Terra. A menos que a gente acredite que uma fonte inesgotável de energia seja capaz de criar um novo planeta para a humanidade, não há como revogar esse problema.

Quem acredita nesse mito - como Friedman e outros - supõe que seremos capazes de produzir um novo planeta. Apesar disso, essa cegueira não é tão ruim quanto a dos economistas tradicionais que pregam o crescimento eterno das economias diariamente em seus relatórios e discussões sérias, com gente de enorme credencial nos bancos centrais do mundo todo, sem entender o que isso realmente significa para o planeta, embora entendam muito bem o que isso significa para o futuro dos lucros empresariais e do resultado com as ações das empresas: os mercados financeiros sempre entrarão em colapso toda vez que o crescimento desaparecer (como agora) e isso irá deixar muito preocupado 20% da humanidade, para os 80% pouco importa se as ações caem ou sobem, mesmo para seus empregos, pois a geração de empregos (permanentes e com qualidade) não tem mais nada a ver com crescimento econômico.

Segue o comentário do Tom Friedman super pertinente:

What I always say to people when they say to me, "We're having a green revolution" is, "Really? A green revolution! Have you ever been to a revolution where no one got hurt? That's the green revolution." In the green revolution, everyone's a winner: BP's green, Exxon's green, GM's green. When everyone's a winner, that's not a revolution--actually, that's a party. We're having a green party. And it's very fun--you and I get invited to all the parties. But it has no connection whatsoever with a real revolution. You'll know it's a revolution when somebody gets hurt. And I don't mean physically hurt. But the IT revolution was a real revolution. In the IT revolution, companies either had to change or die. So you'll know the green revolution is happening when you see some bodies--corporate bodies--along the side of the road: companies that didn't change and therefore died. Right now we don't have that kind of market, that kind of change-or-die situation. Right now companies feel like they can just change their brand, not actually how they do business, and that will be enough to survive. That's why we're really having more of a green party than a green revolution.

(tradução livre - Hugo)
O que eu sempre digo para as pessoas que dizem para mim, "Nós estamos numa revolução verde" é, "Realmente? Uma revolução verde! Você já esteve numa revolução onde ninguém sai machucado? Essa é a revolução verde." Na revolução verde, todo mundo é vencedor: BP é verde, Exxon é verde, General Motors é verde. Quando todo mundo é vencedor, isso não é uma revolução - na verdade, isso é uma festa. Nós estamos numa festa verde. E é muito divertida - você e eu somos convidados para todas as festas. Mas isso não tem conexão alguma com uma revolução real. Você saberá que é uma revolução quando alguém sai ferido. E eu não suponho fisicamente ferido. Apenas a revolução das tecnologias de informação (TI ou internet) foi uma revolução real. Na revolução de TI, as companhias ou mudavam ou morriam. Por isso, você saberá que a revolução verde está acontecendo quando vir alguns cadáveres - cadáveres de empresas - ao longo da estrada: companhias que não mudaram e por essa razão morreram. Agora mesmo não temos esse tipo de mercado, essa situação do tipo mude-ou-morra. Nesse momento as companhias apenas sentem que precisam mudar sua marca, mas não realmente mudar seu jeito de fazer negócios e que isso será suficiente para elas sobreviverem. Isso explica porque estamos tendo muito mais uma festa verde do que uma revolução verde.

Outra post sobre o mesmo comentário do T. Friedman aqui.

Um comentário:

Ricardo Peres disse...

Tentar escapar da segunda lei da termodinâmica é como querer escapar da gravidade. As pessoas, empresários, políticos e acadêmicos, precisam entender isso de uma vez por todas. Estamos numa rota de colisão com o planeta em função de um profundo (e muitas vezes conveniente) equívoco com relação à realidade termodinâmica, equívoco cuja retificação deveria representar a maior e mais urgente prioridade política. Se isso ainda não ocorre, ocorrerá em breve... . Não há saída.

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