As áreas protegidas foram erigidas com a idéia que o homem iria destruir tudo e para preservar um pedaço que fosse da natureza, seria necessário demarcá-las e colocá-las a salvo de toda e qualquer presença humana. Quando o ser humano estivesse cansado dos mundos artificiais que criou para si, iria até lá, nessas áreas protegidas, contemplar a natureza ainda intacta.
Há vários erros aí. Um deles é o mito da separação entre homem e natureza, como se ele não fizesse parte dela. Mas há outros. A idéia de mundo artificial é falsa, nossas cidades estão tão vinculadas com a natureza e o meio ambiente quanto os parques. Até nossas tecnologias, nossas vidas, nosso consumo, nossa produção estão vinculados e dependentes da natureza que destruímos continuamente. Os que moram em São Paulo todo dia se alimentam e tomam água, como todo mundo. Esses recursos vieram dos bichos, das plantas, dos ecossistemas. Sem os bichos e as plantas, o planeta inteiro seca, fica sem água. Todo o resto das nossas vidas idem. Não existe mundo artificial, primeiro erro. O segundo é ver que o ser humano não precisa necessariamente destruir tudo, ao contrário, ele precisa o quanto antes aprender a preservar, pois disso depende a sua vida e sua longevidade como espécie animal.
Terceiro erro é considerar indesejáveis as populações engajadas na proteção ambiental e quando elas foram retiradas sem critério algum das áreas demarcadas para proteção integral, com isso se perdeu a possibilidade de uma co-gestão (governo e sociedade), transmissão de conhecimento e preservação efetiva. O resultado final das áreas protegidas no qual se retiraram as pessoas foi sua total devastação. Yellowstone é um marco de um erro do passado e de uma atitude do futuro: só funciona proteger a natureza quando o ser humano for incluído e a sua interação benigna for estimulada.
O quarto erro é o ser humano sair do seu mundo artificial e ir contemplar a natureza, como se antes desse movimento, o ar que ele respirasse não viesse das plantas, dos oceanos; como se todo o equilíbrio químico do ar, da água e do solo onde ele está o tempo todo não viesse da vida e dos ecossistemas planetários; e como se seu coração não batesse graças a um ser vivo capaz de armazenar a luz do sol. Estranho ir contemplar a natureza ali tão distante, quando ela está com ele o tempo todo.
Com essa separação, mantida até mesmo por parte do movimento ambientalista, não conhecemos, não aprendemos, não preservamos e nos comportamos como pragas em vias de extinção, assim como já está toda vida desse planeta no maior processo de extinção planetária dos útimos 65 milhões de anos. É por isso que 42 campos de futebol em florestas são destruídos a cada minuto. Enquanto o ser humano não enxergar sua relação de dependência com o planeta e sua enorme vulnerabilidade, as chances de evitarmos nosso fim serão mínimas. Disso depende uma visão como a do Antônio Carlos Diegues e outros estudiosos sobre o homem e o mundo vivo do qual ele depende. Há áreas que em função da antropização e do seu impacto precisam estar realmente protegidas sem presença humana, mas há outras, onde reina um certo equilíbrio, que em nada se justifica a exclusão das pessoas. Na maior parte dos casos, a participação das pessoas não só será desejável como benigna.
Hugo Penteado
Muito bom seu blog. Realmente as pessoas tem que estar conscientes de que somos parte integrante da meio ambiente natural, e como ambientalistas nosso papel é sermos multiplicadores da importancia da relação natureza x homem.
ResponderExcluirLuciane Puglisi Marreto
Diretora
ONG EPA BARRUS
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